Daqui a 21 dias os brasileiros irão às urnas. Desta vez, para eleger prefeitos e vereadores. É um momento importante, porque é nas cidades que exercitamos os primeiros conceitos de cidadania, que nos beneficiamos quando fazemos escolhas corretas.
As cidades estão precisando de políticos gestores -e não mais de gestores políticos. Os novos prefeitos devem dar atenção à qualidade da gestão para que se preparem as bases do crescimento futuro. Não podemos pensar nos próximos quatro anos; temos de mirar nos próximos 40 anos. Precisamos de governantes preparados para trabalhar na construção de uma sociedade melhor, dispostos a enfrentar as questões sociais. Eles devem aproveitar o bom momento que o país atravessa para investir no que é fundamental: infra-estrutura, saúde, educação e na qualidade dos serviços públicos, o que inclui investimentos na qualificação dos servidores.
É importante que os prefeitos tenham atitude construtiva e selem com empresas parcerias que permitam um ambiente propício a investimentos privados. Essas parcerias devem ter base na ética e trazer benefícios a todos. Só não se pode confundir o papel da empresa com o do Estado. Ela tem de trabalhar para colaborar com os poderes públicos, mas nunca poderá ser chamada a assumir funções dos governos.
Nas regiões em que o diálogo entre o público e o privado acontece, o retorno para a comunidade é muito mais rápido.
Quando os recursos disponíveis são bem aplicados, cria-se uma rede de benefícios que cresce e se estende a todos. Os investimentos privados geram emprego e renda, o que aumenta o recolhimento de tributos, que, se administrados e empregados com seriedade, vão para escolas, hospitais, projetos de saneamento, tratamento de água, melhoria dos serviços públicos.
Estas eleições são importantes porque vão lançar as bases do sufrágio de 2010, quando vamos escolher o novo presidente e os futuros governadores, deputados e senadores. O quadro político que emergir das urnas neste ano, com certeza, será decisivo para a próxima disputa. Por isso, senhores prefeitos, responsabilidade no trato da coisa pública é a senha para caminharmos com segurança para as eleições gerais. É preciso pensar a perenidade dos bons projetos e não da própria gestão. Não faltam recursos, mas projetos consistentes e alinhados com as necessidades das pessoas.
Também é importante que a sociedade civil assuma seu papel de fiscalizar e cobrar dos novos prefeitos ações que ajudem a melhorar a qualidade de vida da população, em especial a dos mais pobres. Faltam transparência e prioridades na execução dos projetos. O crescimento econômico que o Brasil hoje experimenta e os investimentos feitos aqui geram mais oportunidades e impostos, os quais devem ser usados naquilo que é fundamental para o desenvolvimento do município e para a melhoria contínua da qualidade de vida da comunidade. Nosso desejo é que surja das urnas uma geração de administradores competentes, que, em vez de focar em seus próprios desejos, sejam capazes de dar prioridade ao que a sociedade deseja e de atender aos anseios das pessoas que vivem nas cidades.
Por ROGER AGNELLI, 49, economista e diretor-presidente da Vale - Jornal "A Folha de S. Paulo" de 14/09/08.
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