
Esse mal atinge a humanidade principalmente de quatro formas: primeiro, a pessoa-usuária, que vive amarrada a um sistema de criminalidade para adquirir a droga, substância destruidora de sua própria saúde; segundo, a família da pessoa-usuária, que, dia após dia, é carcomida pelo sofrimento de acompanhar um ente querido destruir paulatinamente a própria vida, em razão de sua dependência química; terceiro, o Estado, por assistir sua autoridade sendo afrontada e confrontada pela ação dos traficantes; e quarto, a sociedade, que vive aterrorizada pelas ações criminosas, movidas em torno do tráfico de drogas: furta-se, rouba-se e mata-se em decorrência da maldita da droga.
Nesse prisma, a ficção parece ter se tornado realidade. Há um conto russo, em que sete fortes guerreiros estavam reunidos para comemorar a vitória, quando, no firmamento, aparece um cavaleiro munido de espada, cavalgando em direção aos mesmos para desafiá-los. Não precisou mais que um golpe de um dos guerreiros para dividi-lo ao meio. Do cavaleiro morto surgiram dois cavaleiros que, novamente, foram divididos em dois por dois golpes de dois guerreiros invencíveis. Os dois cavaleiros mortos viraram quatro e assim se multiplicaram, enquanto eram derrotados. Após alguns dias de combate com uma legião de cavaleiros, os sete guerreiros foram derrotados pelos fracos cavaleiros que tinham o dom de se multiplicar, quando mortos.
No conto, os sete cavaleiros podem ser vistos como policiais militares, policiais civis, promotores de justiça e juízes de direito, representantes do Estado, que, sozinhos, não estão conseguindo combater esse grande mal, encontrando-se na iminência de serem derrotados, já que a cada traficante trancafiado, tirado de circulação, surgem outros dois para continuarem a obra funesta.
Há, no entanto, uma luz no fim do túnel. Como solução para essa crise, o que se propõe é a aproximação da sociedade e do Estado, a união de forças. Esclarecendo, já passou da hora da sociedade abandonar o silêncio cúmplice e se unir ao Estado.
Não basta dizer basta. É preciso arregaçar as mangas, incluir-se na luta e fazer bastar. Como? Denunciando e testemunhando fatos perpetrados pelos traficantes de drogas às autoridades competentes (policial militar, delegado de polícia, promotor de justiça e juiz de direito), cooperando, assim, na formação da prova penal condenatória, e, ao final, cobrando por resultados concretos no enfrentamento do crime.
Triste é uma sociedade em que ninguém sabe nada, que ninguém vê nada e que ninguém escuta nada. Será que somos esse tipo de sociedade ou, na verdade, ninguém quer se comprometer?
Compromisso, esta é a palavra de ordem. O Estado precisa da sociedade, do homem e da mulher de bem, para combater o câncer social das drogas de forma mais eficiente.
Do contrário, se as coisas continuarem como estão, estaremos fadados a viver numa narcossociedade, em que os valores humanos são tragados, cheirados e injetados.