A vida só tem um sentido, e o único sentido que a vida tem é quando investimos nossa vida na vida dos outros, ou quando encarnamos a luta dos outros como se ela fosse nossa, a luta do coletivo. Esta é a lida do Promotor de Justiça: lutar pela construção contínua da cidadania e da justiça social. O compromisso primordial do Ministério Público é a transformação, com justiça, da realidade social.



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17 de maio de 2013

As vítimas invisíveis

 
Para sofrer não existe idade mínima. Em meio ao tosco debate sobre a diminuição da maioridade penal no Brasil, escapa aos observadores a geração invisível de vítimas jovens do crime no país. Uma reportagem desta edição de VEJA dá voz a esses “órfãos da impunidade”. Eles representam os milhares de crianças e adolescentes brasileiros que perderam os pais para as balas assassinas de criminosos, muitos deles menores de idade que destruíram famílias inteiras e nunca pagaram devidamente por seus atos. A reportagem mostra que, por uma cruel inversão de valores, existem centenas de entidades de direitos humanos prontas a minimizar a responsabilidade dos assassinos no Brasil e poucas dedicadas às vítimas. Sua atuação se soma a uma legislação penal feita com o mesmo objetivo de aliviar a culpa de quem aperta o gatilho de um a arma apontada para a cabeça de uma pessoa já rendida e passiva ou de quem narra como banhou uma vítima em álcool e lhe ateou fogo em seguida, irritado com o fato de ela ter apenas 30 reais disponíveis para sacar no caixa eletrônico. É revoltante.
 
Os repórteres de VEJA mostram também que a crueldade dos criminosos não pode mais ser perdoada por sua idade ou pelas condições sociais. Não. Chega. Basta. Em um número crescente de crimes, o que se nota é que os bandidos são mais ricos do que suas vítimas. Eles usam roupas de grife e andam em carros esportivos importados. Portanto, nem a estúpida tese de que o crime no Brasil cumpre uma função "Robin Hood’- se sustenta mais. Ninguém por aqui rouba e mata para aplacar a própria fome ou a da família. A economia vive um período de pleno emprego. Qualquer um que queira ganhar a vida honestamente tem todas as oportunidades para fazê-lo. Os facínoras roubam, torturam e matam suas vítimas indefesas nas cidades brasileiras não porque precisam — mas porque podem. Eles têm a certeza das penas brandas, das atenuantes, quando não da impunidade. Os policiais contam que, quando menores, os assassinos zombam deles ao ser presos, recitando capítulos das leis que garantem sua volta às ruas. Uma vez reveladas as atrocidades cometidas contra inocentes desarmados, os bandidos de qualquer idade sabem que logo aparecerão seus defensores, pondo a culpa na sociedade, na má qualidade da educação ou nas injustiças do capitalismo. É intolerável.
 
Nenhuma nação se viabiliza sem garantir segurança a seus cidadãos, que só querem trabalhar e criar os filhos para que cresçam como pessoas honestas e produtivas. Qualquer sociedade se deteriora quando põe a culpa em variáveis abstratas, em circunstâncias que podem ser mudadas apenas por “uma revolução social”, enquanto fecha os olhos à culpa individual de quem puxa o gatilho ou joga o isqueiro aceso sobre a vítima encharcada de álcool. Isso é conversa de esquerdista do século passado. O que os brasileiros exigem é paz e sossego para trabalhar, para andar nas calçadas sem temor, para conversar com os parentes e amigos na varanda de casa sem estar na mira de algum predador, seja qual for sua idade, certo de que, se vier a pagar pelo crime, o preço será infinitamente menor do que o infligido à vítima e sua família. Passou a hora de o Brasil reagir a essa calamidade.
 
Fonte: Carta ao Leitor da revista "Veja" de 06/05/2013.

Um comentário:

CONSIDERANDO BEM... disse...

Pois é, caro César...
Impressionante é ver que nossos representantes ficaram esses dias varando madrugadas pela questão dos portos, tratado como 'urgente', enquanto uma legião de órfãos cresce a cada dia, de forma quase epidêmica, e não há tal preocupação em mudar essa barbárie!
Bom, fiz um texto há pouco sobre outra barbárie (infelizmente, sobre a 'barbárie da semana', já que está demais!).
Está no blog, sob o título:
"Bandidos violentos... e o direito do avesso!"

Em:

http://considerandobem.blogspot.com.br/2013/05/bandidos-violentos-e-o-direito-do-avesso.html

Abraços
Na resistência.
Fernando Zaupa
C.Grande-MS

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O Ministério Público que queremos e estamos edificando, pois, com férrea determinação e invulgar coragem, não é um Ministério Público acomodado à sombra das estruturas dominantes, acovardado, dócil e complacente com os poderosos, e intransigente e implacável somente com os fracos e débeis. Não é um Ministério Público burocrático, distante, insensível, fechado e recolhido em gabinetes refrigerados. Mas é um Ministério Público vibrante, desbravador, destemido, valente, valoroso, sensível aos movimentos, anseios e necessidades da nação brasileira. É um Ministério Público que caminha lado a lado com o cidadão pacato e honesto, misturando a nossa gente, auscultando os seus anseios, na busca incessante de Justiça Social. É um Ministério Público inflamado de uma ira santa, de uma rebeldia cívica, de uma cólera ética, contra todas as formas de opressão e de injustiça, contra a corrupção e a improbidade, contra os desmandos administrativos, contra a exclusão e a indigência. Um implacável protetor dos valores mais caros da sociedade brasileira. (GIACÓIA, Gilberto. Ministério Público Vocacionado. Revista Justitia, MPSP/APMP, n. 197, jul.-dez. 2007)