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24 de maio de 2011

Amor: sepultura ou pôr do sol?


Há um belíssimo conto de Lygia Fagundes Telles, “Venha ver o pôr do sol”, que traz uma reflexão sempre atual sobre o significado do amor e da relação entre os amantes.

Numerosas pesquisas apontam a covardia dos homens como um importante indicador dos atos de violência contra as mulheres. Recentemente, a imprensa alardeou um dado assustador: o de que, a cada 2 minutos, 5 mulheres são espancadas no Brasil. Na maioria dos casos, os espancamentos e as mortes ocorrem depois de algum tempo de convivência. São cometidos, com maior frequência, pelos namorados, pelos maridos, pelos amantes – pelos companheiros, enfim. Depois, aparecem os padrastos, os pais, os irmãos e afins como responsáveis. O lar, que deveria ser um espaço de harmonia e de convivência, transforma-se em um palco de guerra.

Na semana passada, emissoras de televisão mostraram imagens de um casal de jovens, ex-namorados, em um elevador. O rapaz tentava matar a moça por não concordar com o fim do namoro. A cena é de uma crueldade chocante. Chutes, socos e um cinto utilizado para enforcá-la. O “valentão” usou o amor para justificar a ação. Não poderia viver sem a ex-namorada. Seu amor era grande demais.

Será isso o amor? O rapaz não poderia viver sem ela ou não poderia tolerar o fato de ser “abandonado”?

No conto de Lygia, a mulher também resolve terminar o relacionamento. E o homem a convida para acompanharem, juntos, um último pôr do sol. Ela aceita, até porque teve uma história com ele e não gostaria de que as coisas acabassem de uma forma desagradável. Ele, estranhamente, marca o encontro em um cemitério, onde seria possível contemplar melhor o pôr do sol. E, lá, os dois caminham, conversando, entre as sepulturas.

O conto é recheado de metáforas. Os personagens estão entre mortos. E, assim, nesse clima, o homem convida a mulher a entrar sozinha em um mausoléu. Ela concorda. Não quer magoá-lo. Vale a pena ler o conto para acompanhar o desfecho da história.

Quem ama não agride e não aceita a agressão. As mulheres vitimadas pela violência têm muita dificuldade, infelizmente, em denunciar seus companheiros. Ficam imaginando quão complicado é ver preso o pai dos próprios filhos, criam desculpas para as ações agressivas; não em poucos casos, assiste-se a um final trágico. Como no conto.

É preciso que as mulheres assumam uma posição firme diante de qualquer tipo de violência praticado por seus companheiros. E denunciem. A violência física pode ser antecedida por uma violência simbólica, moral, que também é dolorosa. O aperitivo do espancamento pode ser um empurrão, um tapa leve. Na origem de tudo, está a ausência de um valor essencial para a convivência humana: o respeito.

O amor, definitivamente, não é um caminho para a sepultura. Pode até contemplar um pôr do sol, mas com esperanças…

Por Gabriel Chalita, Filósofo, Educador e Deputado Federal.

Um comentário:

Vellker disse...

É necessário que os comentaristas em geral comecem a prestar atenção ao fato de que repetem demais a mesma acusação.

A de que só os homens são os maldosos, os pérfidos e os seres dos quais só se pode esperar o pior. Afinal de contas as mulheres namoram e casam com quem mais? Se os homens fossem tão horríveis assim, ficariam todas solteiras. Ou nos tempos mais liberais de hoje, o Brasil se tornaria a segunda ilha grega de Lesbos.

Em repetidas manchetes aparecem os homens cometendo crimes passionais. Parece porém haver uma certa despreocupação em relatar com o mesmo espaço o que as mulheres fazem, que também não fica nada atrás. Toda vez que uma mulher é assassinada pelo seu conjuge ou namorado, verdadeiras torrentes de recriminações recaem sobre o genero masculino, como se todos os homens estivessem na esquina maquinando como matar sua namorada ou esposa.

Porque não relatar também com muito barulho os incontáveis casos de envenenamentos de maridos, de assassinatos de maridos atacados pelo amante da até então imaculada esposa? Que tal noticiar o caso do garçom no interior de São Paulo morto e esquartejado pela mulher com quem vivia, que é claro, ficou em liberdade para responder pelo que fez? Ou da mulher do Rio de Janeiro que assassinou o médico que lhe dava uma vida de rainha, de olho na herança? E do último e rumoroso caso da amante que assassinou um homem num motel? Quanto a mulheres largando bebezinhos em cestos de lixo, rios, bueiros e coisas tal, nem tem comparação.

Aí não tem passeata das feministas, não tem choradeira pela lei Maria da Penha, que deveria ter uma contrapartida, que tal uma lei Mário da Penha?

O certo é que se for para ficar acusando só um dos lados como se só os homens fossem capazes dos piores atos com vive do seu lado, já é como se diz, forçar a barra demais.

Que as feministas e repórteres passem a fazer também passeatas e artigos pelos homens que forem assim mortos. Vão ver que o placar entre os sexos não fica muito diferente.

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