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9 de março de 2011

Estudo sobre futuro bandido é polêmico

Pesquisadores dos EUA dizem que crianças com amígdalas cerebrais menores podem se transformar em criminosos

Estudo controverso encontrou semelhanças nas imagens do cérebro de crianças, psicopatas e também de bandidos

Fulaninho de tal, 3 anos, alta periculosidade.

A ideia de reconhecer futuros criminosos em crianças que mal sabem falar foi a grande sensação do maior encontro científico americano, a AAAS, em Washington, no fim do mês passado.

A "boa notícia" trazida pelos pesquisadores é que seu filho, se tiver um cérebro "malvado", pode não se tornar um bandido, mas um político corrupto. Criminosos armados e de colarinho branco têm cérebros parecidos.

Os responsáveis pelos estudos que vinculam violência com áreas cerebrais relacionadas ao julgamento moral e ao medo de punição são Adrian Raine, da Universidade da Pensilvânia, e Nathalie Fontaine, da Universidade de Indiana (EUA).

Os dois estão acostumados a desagradar quem os considera deterministas. Sua superlotada apresentação em Washington tinha muita gente com cara feia.

Raine mostrou um trabalho em que escaneou o cérebro de 27 psicopatas para saber como eram as suas regiões ligadas a emoções como a culpa, remorso e medo, principalmente a amígdala e o córtex pré-frontal.

Os psicopatas tinham amígdalas 20% menores do que o normal. Parece pouco, mas não se sabe bem que efeitos comportamentais isso causa, e é notório que a amígdala menor fosse generalizada entre os criminosos.

Resultados semelhantes foram encontrados nos cérebros de crianças consideradas problemáticas por pais e professores, algumas com apenas três anos, e em bandidos sem psicopatia.

Mais: Raine descobriu um cérebro similar em 21 condenados por fraudes financeiras (como golpes contra empresas de cartão de crédito). "Cérebro ruim, comportamento ruim", resumiu, tornando as caras mais feias.

A pesquisadora chega ao ponto de questionar se essas pessoas realmente têm culpa pelos seus atos. "Ninguém pediu para nascer com uma amígdala menor", diz.

A ideia de escanear o cérebro de crianças horrorizou os pesquisadores na plateia. Vários pediram o microfone para lembrar do risco de estigmatizar os meninos que estariam fadados ao mal.

Fontaine diz que quanto antes crianças potencialmente perigosas forem identificadas, melhor. "Assim podemos ajudar tanto elas quanto as suas famílias", diz.

Uma ideia seria avaliar se essas crianças não estão em situações que facilitariam o desenvolvimento do seu potencial criminoso, como viver em áreas de pobreza.

Se estiverem, é preciso tirá-las dali. Cérebro "ruim" em um ambiente pior pode ser a receita da tragédia.

Fonte: Jornal "A Folha de S. Paulo" de 07/03/2011.

3 comentários:

CONSIDERANDO BEM... disse...

Hum....parece um 'dèjá vu'...
...ops...
...e o tal Lombroso, lá em 1876, com seus estudos sobre a 'frenologia', em seu intempestuoso e inflamável livro 'O Homem delinquente'???
Interessante, não?

Vellker disse...

O articulista de "Considerando Bem" tirou as palavras dos que vierem a comentar depois dele. Lembrou de Cesare Lombroso, parecido com outro Cesare que hoje está no Brasil. Nas páginas dos jornais atuais, a cada semana aparecem estudos carregados de absurdas suposições e coisas tais sempre amparados nos mais modernos meios de escaneamento digital do cerébro humano.

Meios que apesar de modernos tornaram-se um brinquedo nas mãos de cientistas que nada mais querem senão aparecer como grandes "descobridores" de que apenas uma protuberância de um ou meio milímetro nos miolos de algum humano em estudo já o condena a diversos males e o torna passível de crimes horripilantes.

Bem lembrado pelo articulista anterior, apesar dos tempos modernos existe nestes cientistas a mesma tara de Cesare Lombroso, que mostrando as protuberâncias do crânio de condenados, exultava ao dizer que pessoas com tal conformação craniana estavam condenadas a uma vida de crimes. Claro, Cesare nada dizia da forma dos crânios do comerciante, do banqueiro ou do guarda do bairro com quem convivia normalmente e o cumprimentavam gentilmente. É de se imaginar que os professores que assistiam suas palestras deixassem o cabelo crescer para ocultarem as mesmas protuberâncias em suas cabeças científicas.

Esses modernos pseudo-estudos além de não trazerem nenhuma confirmação incontestável como as simples impressões digitais, terminam perdidos em nebulosos volumes onde predominam os termos como "semelhantes", "tendências", "possibilidades", "probabilidades" e outros mais que a tudo e a todos envolvem numa névoa de "pode ser", "é provável", "talvez" e nada se comprova a não ser que mais algumas linhas foram colocadas nos currículos dos pseudo-cientistas.

Seria útil se o mesmo experimento fosse feito nos que se dedicam a esses estudos absurdos para verificar a similaridade de suas circunvoluções cerebrais.

Anônimo disse...

Lombroso falava em anatomia do criminoso. Vejo esse tipo de estudo com reservas. Não podemos nos esquecer que na Alemanha nazista se faziam "experiências" com prisioneiros e que a raça ariana era tida como superior as demais. O estigma pode ser extremamente perigoso. Penso que não se deve acolher esses estudos feitos de afogadilho, cujo interesse é mais na autopromoção do que na busca da verdade científica imparcial. Um forte abraço.

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