A vida só tem um sentido, e o único sentido que a vida tem é quando investimos nossa vida na vida dos outros, ou quando encarnamos a luta dos outros como se ela fosse nossa, a luta do coletivo. Esta é a lida do Promotor de Justiça: lutar pela construção contínua da cidadania e da justiça social. O compromisso primordial do Ministério Público é a transformação, com justiça, da realidade social.



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21 de janeiro de 2011

Fraterno devotado


Um dos bons filmes que os americanos produziram este ano e que ainda não chegou ao Brasil, “Conviction”, merece reflexão. É a versão cinematográfica de um episódio real. A irmã de um encarcerado, convencida de sua inocência, lutou contra a exclusão e a hipossuficiência e, durante dezoito anos, empenhou-se em provar que a condenação fora injusta. Nesse período, alfabetizou-se, fez o equivalente à madureza, ingressou na Faculdade de Direito e se formou. Tudo com o objetivo de tirar o irmão do cárcere.

A atriz Hillary Swank interpreta a protagonista dessa epopeia microscópica. Conta que se emocionou ao conhecer a aventura de uma irmã que, praticamente, direcionou sua existência a uma causa. E a uma causa nobre. Quem é que hoje ainda consegue se dedicar a uma causa? Aparentemente, a busca de grande parte da população é a sobrevivência. A qualquer custo, a qualquer preço. Nisso prepondera o egoísmo. Quantas vezes não se ouve a frase melancólica: – “Você, para mim, é problema exclusivamente seu! Inclua-me fora disso!” e outras tiradas de um humor cáustico.

Denunciador de uma era hedonista e narcisística. Cada qual voltado para o seu próprio umbigo. Mas quando se vê um fato real como o dessa irmã em luta para tirar das grades alguém que tem o seu sangue, tende-se a acreditar em Luc Ferry, para quem o mundo não está inteiramente perdido. Enquanto houver alguém disposto a empenhar a própria vida em favor de outrem, a perseguir uma causa nobre, haverá condições de crença na humanidade. Constata-se com facilidade que os valores tradicionais estão em crise ou desapareceram. Quem é que se disporia a morrer pela Pátria? Quem oferece sua vida por um ideal?

Mas ainda existe quem se proponha a fazê-lo por um filho. E, inacreditavelmente, há filhos que se dispõem a morrer por seus pais. Ao menos, estão dispostos a doar medula, um rim ou parte do fígado para salvar a vida de seus genitores. É porque não se destruiu de todo o gérmen de humanidade que há na consciência humana. Não quero contar o fim do filme, para não estragar aqueles que deverão assisti-lo. Mas não resisto a dizer que a personagem principal obteve seu intento. O irmão saiu da cadeia. E seis meses depois morreu num acidente. Para ela, valeu! Foram os seis meses mais felizes de sua vida.

Por Renato Nalini, Desembargador (TJSP).

Um comentário:

Gustavo Dias disse...

O Trailer do Filme pode ser encontrado no link:
http://www.youtube.com/watch?v=NrPtr0aQx3s
De fato, é uma produção ímpar!

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Paradigma

O Ministério Público que queremos e estamos edificando, pois, com férrea determinação e invulgar coragem, não é um Ministério Público acomodado à sombra das estruturas dominantes, acovardado, dócil e complacente com os poderosos, e intransigente e implacável somente com os fracos e débeis. Não é um Ministério Público burocrático, distante, insensível, fechado e recolhido em gabinetes refrigerados. Mas é um Ministério Público vibrante, desbravador, destemido, valente, valoroso, sensível aos movimentos, anseios e necessidades da nação brasileira. É um Ministério Público que caminha lado a lado com o cidadão pacato e honesto, misturando a nossa gente, auscultando os seus anseios, na busca incessante de Justiça Social. É um Ministério Público inflamado de uma ira santa, de uma rebeldia cívica, de uma cólera ética, contra todas as formas de opressão e de injustiça, contra a corrupção e a improbidade, contra os desmandos administrativos, contra a exclusão e a indigência. Um implacável protetor dos valores mais caros da sociedade brasileira. (GIACÓIA, Gilberto. Ministério Público Vocacionado. Revista Justitia, MPSP/APMP, n. 197, jul.-dez. 2007)