Sabemos que nos municípios nunca passamos do coronelismo ou do familismo, em uma política de nepotismo, compadrio e clientelismo (e uma boa dose de perseguição), e contextos, na maioria das vezes, de extrema miséria e dependência do assistencialismo público, do analfabetismo e da ignorância.
Sabemos como as oligarquias controlam o aparelho público e a mídia na quase totalidade dos Estado-membros, e que as mesmas não têm interesse no desenvolvimento, pois este concorreria para o declínio do seu domínio multissecular.
O Estado Nacional, associado a (des)Ordem Internacional imperial é controlado por um pacto entre o estamento burocrático e os detentores do poder econômico e financeiro, e onde os políticos são, no fundo, seus prepostos, seus gerentes confiáveis.
Mas, os donos do poder (para usar a expressão do saudoso Raymundo Faoro) precisam de uma coisa importante para governar, chamada legitimidade.
A concordância, o consentimento, o aval dos governados. Daí a importância simbólica das eleições, com partidos aos frangalhos, programas ornamentais, ideologias varridas para debaixo do tapete, e onde, publicamente, apenas se discute os temas periféricos, nunca as questões de fundo, muito menos o próprio modelo distorcido e perverso, que perpetua a chamada pirâmide social, e sua inversão “representativa”: o Parlamento.
Se toda Democracia pressupõe um Estado de Direito, nem todo Estado de Direito é realmente democrático. Se toda Democracia pressupõe uma liberalização da sociedade civil, com distinção entre o público e o privado, e o assegurar de direitos civis e liberdades públicas, nem toda sociedade liberalizada vive uma verdadeira Democracia.
Aí está o programa eleitoral gratuito; aí estão os comícios, as propagandas, as bandeiras portadas pelo “militontos” (“militantes remunerados”), e, no dia previsto, um belo “espetáculo cívico”, quando vamos legitimar, vamos escolher os escolhidos, vão dar um cheque em branco, e aguardar o que vão aprontar contra nós, pois nossa vontade não vale, e qualquer tentativa de se ir além da formalidade na consulta a vontade popular, é iradamente denunciada como um perigoso “populismo”, e qualquer proposta que democratize a propriedade será taxada de anacrônica ou deliquente.
As elites sabem conduzir com maestria o “Estado-Espetáculo”, na expressão de um cientista político francês.
A Democracia é apenas um sonho; a coreografia uma realidade!
2 comentários:
No espaço de uma semana aparece mais um artigo muito bem escrito, elogiável em todos os pontos, que coloca de uma forma clara o que vivemos no Brasil de hoje : uma coreografia bem encenada numa peça de teatro burlesco chamada de "Democracia e Cidadania".
Críticas ferinas sobre esse degradante espetáculo que assistimos ou melhor somos forçados a assistir, também são feitas é claro, por observadores de relevância intelectual mas estrangeiros. Aqui dentro do teatro, poucos observadores bem colocados ousam fazer isso. A maioria prefere manter as chances de uma agradável sinecura governamental intactas. Quem não se lembra do acadêmico petista Francisco Weffort aderindo ao governo de Fernando Henrique Cardoso poucos dias depois do resultado das eleições, onde ele saiu vitorioso, com um laudatório atestado de adesão, publicado na "Folha de São Paulo" notória adversária de Lula?
Vivo exemplo da mentalidade que torna vivos hoje os personagens tão bem descritos nos romances de Jorge Amado, onde os coronéis que dominavam cidades e regiões inteiras tinham seus diplomados beija-mãos, políticos cantadores de suas "ilustríssimas virtudes" e "jornalistas" que imprimiam páginas de reportagens laudatórias aos "benfeitores" do povo, que depois, na velhice, legavam ao povo que haviam dominado apenas a sua decadência física, que se juntava à decadência moral de toda a sua vida. O resultado era a miséria de regiões que perdura até hoje.
Infelizmente esses tipos antes retratados nas infelizes paragens do norte retomaram a vida e criaram uma legião de descendentes de norte a sul do Brasil, infestando e impregnando o Brasil moderno com esse legião de dominadores e vassalos da pior espécie.
Melhor teria sido se como nas lembranças de Braz Cubas em suas meméorias eles tivessem dito que "...Não tive descendentes. Não transmiti a nenhum deles o legado da minha miséria...".
Mas ao mesmo tempo, essa nova classe de cronistas lúcidos e corajosos, que ferem como uma flecha essas iniquidades em forma de corpos humanos torna possível e acima de tudo certo a existência um Brasil melhor, que há de vir pelas mãos desses hoje escritores, amanhã combatentes por uma vida melhor.
Há milhares de anos na história da Humanidade, filósofos e escritores vem usando suas palavras e muitas vezes as armas para protegerem povos e sociedades, ajudando-as a alcançarem uma vida melhor e plena de realizações, de ideais e trabalho.
É encorajador ver que esses homens legaram aos seus descendentes a nobreza de suas vidas. É o que nos mantém cheios de esperança e vigor.
Vellker
http://cartasdepolitica.blogspot.com
com certeza se esses governantes soubesse que ao chegar no poder para governar para o povo de forma justa, cumprindo o que nos prometeu através de seus programas de governo,que poderiam ser depostos de seus mandatos com certeza viveríamos em uma pátria mais justa,acho que isto cabe ao ministério publico,juntamente com a sociedade.
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