A vida só tem um sentido, e o único sentido que a vida tem é quando investimos nossa vida na vida dos outros, ou quando encarnamos a luta dos outros como se ela fosse nossa, a luta do coletivo. Esta é a lida do Promotor de Justiça: lutar pela construção contínua da cidadania e da justiça social. O compromisso primordial do Ministério Público é a transformação, com justiça, da realidade social.



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2 de maio de 2009

Como se decompõe uma nação


Em seu relatório de 2008, a International Transparency situa o Brasil em 80º lugar, com nota 3,5 sobre 10, no ranking da corrupção. Estamos nivelados com Burkina Faso, Marrocos, Arábia Saudita e Tailândia. Perdemos até para a Namíbia, Tunísia e Gana, países onde as práticas são consideradas mais corretas do que aqui. É constrangedor o que o mundo pensa de nós! Estou convencido, caro leitor, de que temos a obrigação moral de enfrentar essa pauta, refletindo sobre a realidade que os números refletem. É intenção deste artigo, portanto, identificar o que nos conduz a tão lamentável reconhecimento mundial.

Em contradição com a opinião de muitos, penso que o povo brasileiro é de boa índole. Nossa gente, em sua imensa maioria, tende a agir bem. Mas vem sendo submetida, essa boa gente, de modo sistemático, a uma estratégia perversora, cujo longo e tenebroso roteiro pode ser agrupado nos quatro conjuntos de ações que exemplifico a seguir, sem esgotar a pauta:

1. Ações pelo império do “politicamente correto”. Elas envolvem tolerar tudo, sempre, exceto a opinião do Papa. Combater a disciplina e jamais dizer “não” a si mesmo. Rejeitar a noção de limites. Inibir o exercício da autoridade nas famílias, escolas, instituições públicas e privadas. Abrandar as penas, tornar morosos os processos. Instaurar o império da impunidade. Assumir, como critério de juízo, a ideologia segundo a qual as vítimas da criminalidade são socialmente culpadas, ao passo que os bandidos são inocentes porque a sociedade os obriga a ser como são (tese do Marcola que coincide com o espírito da última Campanha da Fraternidade). Matreiro, Macunaíma, o herói sem caráter, piscará o olho.

2. Ações contra a identidade nacional. Elas envolvem reescrever a história do Brasil de modo a promover a cultura do ajuste de contas, da vingança e do resgate imediato de dívidas caducas. Denegrir o passado, borrar a imagem dos nossos grandes vultos, construir estátuas para bandidos e exibir, como novos modelos da nacionalidade, os peitos e bundas dos heróis e heroínas do BBB. Macunaíma esboçará um sorriso.

3. Ações contra a alma e a consciência das pessoas. Elas envolvem rejeitar, combater e, quando isso for inútil, tornar irrelevante a idéia de Deus. Sustentar que pecado é conceito medieval e que coisas como bem e mal são muito relativas, dependentes dos pontos de vista e da formação de cada um. Declarar obsoletos o exame de consciência, a coerência com a verdade e a retificação das condutas. Aceitar como válido que o erro de um sirva para justificar o erro de outro. Canonizar o deboche e debochar da virtude. Combater a Igreja desde fora, pela via do ateísmo militante, e desde dentro, invadindo os seminários com literatura marxista. Macunaíma rirá seu riso desalmado.

4. Ações contra a virtude. Elas envolvem atacar a instituição familiar, ambiente essencial à transmissão dos valores e assemelhá-la a uma coisa qualquer. Tornar abundante a vulgaridade. Servir licenciosidade e erotismo à infância e colocar a maior autoridade do país a distribuir camisinhas no carnaval. Evidenciar a inutilidade da Lei, tornando nítido, por todos os meios, que uns estão acima dela, que outros, sem quaisquer consequências, vivem fora dela e que outros, ainda, são credores do direito de a descumprir. Macunaíma, o herói sem caráter, rolará no chão, às gargalhadas.

Por Percival Puggina, Arquiteto e da Presidente Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.

Fonte: Parlata

Um comentário:

Cartas de Política disse...

O articulista acertou na exposição dos fatos que atualmente ocorrem. Na verdade o brasileiro ainda não percebeu, mas como nação já estamos próximos de um período inicial de desagregação do território nacional. Um dos exemplos marcantes disso é a desocupação da região Raposa Serra do Sol por arrozeiros brasileiros por recente decisão do STF. Ou seja o brasileiro nato é obrigado a deixar sua própria terra,
enquanto índios permanecem residindo em uma área milhares de vezes maior do que necessitam. Pior ainda, as autoridades brasileiras ( brasileiras mesmo? ) aceitaram em anos recentes em assinar, submissas, os termos da declaração de proteção dos povos índigenas, que permite a um grupo de índios pedir até mesmo intervenção internacional contra qualquer ato do governo nacional que os desagrade.

E o que essa declaração em sua totalidade protege? Áreas imensas, maiores que muitos países para abrigar um reduzido grupo de índios e acima de tudo que foram demarcadas aqui no Brasil em regiões de fronteira amazônica, coisa que mesmo Orlando Villas-Boas denunciou em uma entrevista dizendo que os territórios demarcados são riquíssimos em minerais estratégicos e na verdade essa sempre foi a intenção dos grupos
estrangeiros que criaram essa declaração, que permite aos índios pedir o auxílio internacional, deixando assim o cidadão brasileiro como um estranho expulso de sua própria terra, com menos direitos do que os
índios. Isso já vemos acontecer no caso dos arrozeiros.

Quanto à educação, depois de 1985, pensaram os caciques políticos, sempre com suas idéias de escravidão política e social, qual seria a melhor forma de criar uma tirania política contra os cidadãos? Deseducá-los seria o ideal, o que foi feito com o novo sistema educacional de progressão continuada, onde mesmo o mais
incapaz dos alunos é aprovado de qualquer forma. Criaram assim uma nação de milhões de pessoas
despreparadas para competir com as outras nações, para a própria vida, para a compreensão do mundo como um todo e de como o Brasil se encaixa nisso, na visão dos cidadãos. Depois de anos de aplicação desse sistema vemos o resultado na perversão da juventude e na sua total incapacidade de entender o que quer
que seja de cultura comum, política ou nação, coisa que era o principal objetivo dos caciques políticos.

Foi esse sistema que permitiu o início da "reforma" da História do Brasil, com figuras de criminosos comuns sendo alçadas à categoria de heróis do povo, enquanto os que fazem parte desse grupo e ainda vivos e participantes desse governo de hoje, não hesitam em se aliar ao que de mais atrasado existe na política brasileira, como ainda por cima confraternizam com os poderes economicos estrangeiros que disseram um
dia ter combatido.

A justiça foi pervertida também, com a criação de cidadãos acima da lei, impunes, intocáveis, enquanto que ao cidadão comum restam as penas altas e na maioria das vezes a mais completa impotência frente às leis que permitem que o Estado cometa todas as injustiças contra ele, enquanto que esse mesmo Estado se declara impedido de julgar a si mesmo. Enquanto isso, nesse clima de vale-tudo, perverteram-se os
costumes, a fibra moral da população vai sendo corroída dia a dia e nos vemos imersos na vulgaridade, na obscenidade e no deboche público do que um dia foram costumes decentes e compostura pessoal na vida nacional. Perdem assim os cidadãos, perde a nação, perdem os juízes e promotores idealistas que vêem
seus esforços para punir um criminoso ou um corrupto quase sempre anulados ou postergados até a prescrição dos crimes que cometeram. E quem se beneficia mais disso senão os políticos que criaram essas leis, que hoje formam uma casta criminal que vai das câmaras de vereadores até o congresso nacional? Com a sua idéia de protegerem a si mesmos, abriram o caminho para os criminosos comuns prosperarem como vemos hoje em dia.

Teremos sim, como cidadãos ainda conscientes, que olhar esses pontos da vida nacional e nos agregarmos em grupos de que defendam ideais maiores para nossa população e para nossa nação e se necessário lutarmos por esses ideais, com os meios que forem necessários.

Ou fazemos isso ou em breve estaremos reduzidos a um grupo de estranhos dentro de nossa própria nação.

Vellker

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Paradigma

O Ministério Público que queremos e estamos edificando, pois, com férrea determinação e invulgar coragem, não é um Ministério Público acomodado à sombra das estruturas dominantes, acovardado, dócil e complacente com os poderosos, e intransigente e implacável somente com os fracos e débeis. Não é um Ministério Público burocrático, distante, insensível, fechado e recolhido em gabinetes refrigerados. Mas é um Ministério Público vibrante, desbravador, destemido, valente, valoroso, sensível aos movimentos, anseios e necessidades da nação brasileira. É um Ministério Público que caminha lado a lado com o cidadão pacato e honesto, misturando a nossa gente, auscultando os seus anseios, na busca incessante de Justiça Social. É um Ministério Público inflamado de uma ira santa, de uma rebeldia cívica, de uma cólera ética, contra todas as formas de opressão e de injustiça, contra a corrupção e a improbidade, contra os desmandos administrativos, contra a exclusão e a indigência. Um implacável protetor dos valores mais caros da sociedade brasileira. (GIACÓIA, Gilberto. Ministério Público Vocacionado. Revista Justitia, MPSP/APMP, n. 197, jul.-dez. 2007)