A vida só tem um sentido, e o único sentido que a vida tem é quando investimos nossa vida na vida dos outros, ou quando encarnamos a luta dos outros como se ela fosse nossa, a luta do coletivo. Esta é a lida do Promotor de Justiça: lutar pela construção contínua da cidadania e da justiça social. O compromisso primordial do Ministério Público é a transformação, com justiça, da realidade social.



Pesquisar Acervo do Blog

18 de dezembro de 2008

Medo do quê?


A prisão do presidente do Tribunal de Justiça (TJ) do Espírito Santo, e outras autoridades, por suspeita de participação numa operação de negociações de sentenças judiciais, em troca de favores e vantagens pessoais, suscita algumas indagações. A primeira delas diz respeito ao perigo da generalização, ou seja, a desconfiança de tudo e de todos, a partir do descrédito das instituições e da generalização da corrupção, segundo a qual todos os políticos são desonestos, todos juízes vedem sentenças etc.

Ocorre que, como ensina Hannah Arendt, o primeiro passo para a impunidade e para a não-responsabilização dos culpados é justamente a crença da impotência a partir do discurso da generalização, pois, quando todos são culpados (corruptos), os verdadeiros criminosos não podem ser identificados, processados e punidos. Especificamente com relação ao caso concreto acima referido, é importante frisar que o Poder Judiciário é essencial e fundamental à democracia.

A segunda delas é que não só a polícia, como a imprensa, o Ministério Público, os cidadãos podem, licitamente, encaminhar e apurar eventuais casos de corrupção. Afinal, quem não deve, não teme. A terceira é justamente o espírito de corpo que guarda nossos poderes e instituições, que relutam insistentemente em apurar e aplicar as sanções e as penalidades cabíveis aos seus próprios pares.

Infelizmente, o caso ocorrido no Estado do Espírito Santo não é hipótese isolada àquele Estado ou àquele poder, sendo necessário um enfrentamento urgente dos casos de corrupção que são praticados de forma banal no nosso dia-a-dia. Como é sabido, a atividade de investigação tem clara natureza preparatória para a análise do eventual cabimento de processo judicial, não havendo como limitar (esconder) a investigação de juízes, de policiais, de promotores, de políticos e de outras autoridades corruptas.

Por Affonso Ghizzo Neto, Promotor de Justiça/SC, Coordenador Nacional do Projeto "O que você tem a ver com a corrupção?"

Fonte: Jornal Diário Catarinense, 18 de dezembro de 2008 - N.° 8290.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Atuação

Atuação

Você sabia?

Você sabia?

Paradigma

O Ministério Público que queremos e estamos edificando, pois, com férrea determinação e invulgar coragem, não é um Ministério Público acomodado à sombra das estruturas dominantes, acovardado, dócil e complacente com os poderosos, e intransigente e implacável somente com os fracos e débeis. Não é um Ministério Público burocrático, distante, insensível, fechado e recolhido em gabinetes refrigerados. Mas é um Ministério Público vibrante, desbravador, destemido, valente, valoroso, sensível aos movimentos, anseios e necessidades da nação brasileira. É um Ministério Público que caminha lado a lado com o cidadão pacato e honesto, misturando a nossa gente, auscultando os seus anseios, na busca incessante de Justiça Social. É um Ministério Público inflamado de uma ira santa, de uma rebeldia cívica, de uma cólera ética, contra todas as formas de opressão e de injustiça, contra a corrupção e a improbidade, contra os desmandos administrativos, contra a exclusão e a indigência. Um implacável protetor dos valores mais caros da sociedade brasileira. (GIACÓIA, Gilberto. Ministério Público Vocacionado. Revista Justitia, MPSP/APMP, n. 197, jul.-dez. 2007)