A vida só tem um sentido, e o único sentido que a vida tem é quando investimos nossa vida na vida dos outros, ou quando encarnamos a luta dos outros como se ela fosse nossa, a luta do coletivo. Esta é a lida do Promotor de Justiça: lutar pela construção contínua da cidadania e da justiça social. O compromisso primordial do Ministério Público é a transformação, com justiça, da realidade social.



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8 de agosto de 2007

Intelectuais e Criminosos


No conto ‘O Cobrador’, Rubem Fonseca detalha os pensamentos de um serial killer que comete seus crimes por acreditar que a sociedade lhe deve algo. No ódio às classes mais abastadas, o ‘cobrador’ descobre o sentido de sua vida, passando a, seletivamente, matar seus ‘devedores’.

O conto retrata fielmente como a imensa maioria dos nossos intelectuais (escritores, artistas, sociólogos, ‘cientistas políticos’, juízes, advogados, etc.) vê e compreende o criminoso.

Os intelectuais, produzindo livros, peças teatrais, filmes, etc., idealizam a figura do criminoso, mostrando-o sempre como uma pobre vítima da sociedade ou então como o ‘cobrador’ de uma dívida social. Paralelamente, para reforçar essa falsa imagem, demonizam a polícia e as elites.

Enaltecido com a doutrinação dos intelectuais, o criminoso sente-se à vontade para inverter os papéis: de acusado passa a acusador. Lança sobre os ombros da vítima as supostas culpas da sociedade, eximindo-se de qualquer responsabilidade pela sua própria conduta.

Na visão esquerdista/comunista dos nossos intelectuais, a explicação para o crime é sempre dada pelos velhos chavões: miséria, pobreza e culpa das elites. O discurso é um só: o bandido é um pobre ‘coitado’, enquanto a vítima é, inconscientemente, culpada.

Nessa ótica vesga, a vítima é culpada por ser uma pessoa com alguma condição econômica e mais feliz do que o criminoso. O amargo assassino, matando, roubando, estuprando ou de qualquer outra forma dizimando a vítima, estaria somente resgatando uma injustiça social.

Os intelectuais brasileiros, em sua maioria, fingem não ver que inexiste relação determinística entre pobreza e criminalidade, e que as causas do crime são multifatoriais, tais como hedonismo, ausência de valores morais e religiosos, busca do lucro fácil, maldade, degeneração.

Os nossos intelectuais fomentam a criminalidade ao promover teorias de indistinção moral, igualando cidadãos honestos a criminosos, sob o pretexto de rejeição a simplificações maniqueístas; defendendo teorias de ilegitimidade punitiva, pois, absurdamente negando o livre arbítrio do criminoso, pintaram-no como pobre vítima de condições socioeconômicas adversas; descaracterizando o malfeitor como ele é na sua essência: um predador dos direitos humanos; considerando titulares de direitos humanos só os facínoras, esquecendo-se propositalmente de suas vítimas; propugnando por aplicação de penalidades muito aquém da gravidade dos delitos praticados pelos criminosos.

Ainda, os intelectuais atacaram a Lei dos Crimes Hediondos, que é uma das garantias dos direitos fundamentais previstos na Constituição; negaram qualquer participação do povo (que exige punições mais severas para os delitos) na elaboração de uma política criminal, assumindo, assim atitude antidemocrática e elitista; pregaram o abolicionismo penal, pugnando pela supressão de qualquer forma de prisão; defenderam com unhas e dentes a impunidade de adolescentes infratores; venderam à população o uso de drogas como uma forma de libertação espiritual; sustentaram que a reincidência penal (prática reiterada de crimes) não teve ter como conseqüência qualquer aumento da retribuição punitiva aos celerados; enfraqueceram o senso moral dos formadores de opinião por meio de charlatanices acadêmicas como o relativismo e a ditadura de minorias; atacaram o direito de propriedade, patrocinando e dando suporte ideológico à invasão de terras pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), além de fazerem demonstrações públicas de solidariedade aos seus líderes.

O cidadão de bem ainda tem de ouvir o irritante discurso dos intelectuais de que são ‘as elites’ que pedem rigorosas punições quando se sentem ameaçadas, como se estupros, assassinatos e homicídios não fossem condenáveis, independentemente da classe social de autores e vítimas.

Concluindo, é forçoso reconhecer a imensa parcela de culpa dos nossos intelectuais no aumento da criminalidade. Sua condescendência criminosa com a violência, seu desprezo à dor das vítimas, o endeusamento dos facínoras, foram o campo fértil no qual germinou a semente que deu origem à frondosa árvore da criminalidade.

Por Cláudio da Silva Leiria, Promotor de Justiça - MPRS, http://www.brasilsemgrades.org.br/

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo plenamente!

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