Existe um denominador comum das crises econômicas, sociais e ambientais do nosso planeta: o padrão de consumo humano.
Os estilos de vida da sociedade são um dos fatores que resultam nas chamadas doenças crônicas não transmissíveis: câncer, doenças respiratórias, condições cardiovasculares, hipertensão e diabetes, que matam no mundo cerca de 35 milhões de pessoas por ano.
Tabagismo, alimentos com alto teor de gordura, sal e açúcar e o consumo nocivo de bebidas alcoólicas causam mais de dois terços dos novos casos dessas doenças.
Uma situação alarmante, que esteve na pauta da reunião de chefes de Estado promovida pela ONU em Nova York em setembro.
Esses padrões de consumo iniciam-se na infância e na adolescência, e vêm concentrando-se nas populações de menor renda e escolaridade. Cerca de 80% das mortes ocorrem em países de baixa e média renda. O tabagismo foi considerado pela Organização Mundial de Saúde uma doença pediátrica.
Do 1,1 bilhão de fumantes no mundo, 90% começaram a fumar até os 19 anos. Em 2009, a Pesquisa Nacional sobre Saúde do Escolar mostrou que 24,5% dos escolares entre 13 e 15 anos haviam experimentado cigarros e que 71,4% tinham provado bebidas alcoólicas; 6,7% deles eram tabagistas regulares e 27% eram consumidores de bebidas alcoólicas.
Em 2008, 35% dos meninos e 32% das meninas brasileiras entre 5 e 9 anos estavam com sobrepeso.
Essas doenças são barreiras para o alcance dos Objetivos do Milênio para o Desenvolvimento, aprisionando famílias pobres em ciclos de débito e doenças.
É fundamental considerar as lições aprendidas na redução do tabagismo para deter a escalada das doenças crônicas não transmissíveis. No final dos anos 90, a Assembleia Mundial de Saúde reconheceu que as dinâmicas de comércio de produtos de tabaco eram vetores da epidemia do tabagismo.
A Convenção Quadro para Controle do Tabaco, tratado internacional de saúde pública, trouxe medidas como proibição da propaganda de produtos de tabaco, de fumar em ambientes fechados, de aditivos em cigarros e aumento de impostos sobre o setor fumo. Atualmente, 174 países já aderiram à Convenção.
Na ONU, Dilma Rousseff mostrou que, no Brasil, a prevalência de fumantes foi de 34% em 1989 para 15% em 2010, com redução de mortes por doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas e câncer de pulmão. A meta é chegar a 2022 com 9% de fumantes na população.
Propomos que as articulações internacionais para deter as doenças crônicas não transmissíveis continuem na Rio+20, em 2012.
O homem é parte do ambiente em que vive. Os agravos sobre a saúde do planeta e a saúde humana têm causas interligadas.
Para resolvê-los, é imperativo que os países adotem uma abordagem sistêmica e integrada.
Autores:
LUIZ ANTÔNIO SANTINI , médico, mestre em cirurgia torácica, membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e da diretoria da União Internacional Contra o Câncer, é diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer desde 2005.
TÂNIA CAVALCANTE é secretária-executiva da Conicq (Comissão Nacional para Implementação da Convenção Quadro de Controle do Tabaco).
Fonte: Jornal "A Folha de S. Paulo" de 23/10/2011.
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