A vida só tem um sentido, e o único sentido que a vida tem é quando investimos nossa vida na vida dos outros, ou quando encarnamos a luta dos outros como se ela fosse nossa, a luta do coletivo. Esta é a lida do Promotor de Justiça: lutar pela construção contínua da cidadania e da justiça social. O compromisso primordial do Ministério Público é a transformação, com justiça, da realidade social.



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22 de abril de 2011

Sem perder a esperança


Ao longo da minha vida, tenho testemunhado muitas injustiças, às vezes protagonizadas exatamente por quem tinha o dever de ser justo.

Mas eu não deixo, ainda assim, que essa triste realidade reduza as minhas ilusões a pó.

Sou duro no embate e vou continuar dando uma pequena, diminuta, quase insignificante contribuição para reverter esse quadro. Nem que essa luta se traduza apenas em palavras, como o faço aqui e agora.

Sem ódio, sem rancor, sem sentimento de vingança – apenas refletindo e levando adiante a minha mensagem.

Desde que ingressei na magistratura, sonho com o dia em que todos serão tratados da mesma forma.

E o que tenho visto, ao longo de tantos anos de dedicação integral à magistratura do meu Estado, dolorosamente, é muita discriminação.

Discrimina-se o igual (?) em face da cor, em face da roupa que veste, em face do bairro em que mora, em face da bebida que bebe, em face dos amigos que tem, em face dos lugares que freqüenta.

No caso específico da Justiça Criminal, onde militei por mais de 20 (vinte) anos, a discriminação é mais odiosa, pois que tem – a Justiça Criminal – os olhos voltados apenas para as camadas mais carentes da sociedade.

Ignominiosamente, os agentes responsáveis pela persecução criminal têm os tentáculos voltados, de forma inclemente até, somente para a população mais carente.

Mas nós não podemos dar um tiro na cabeça por isso.

Nós temos que ter a capacidade de, diante dessa inefável realidade, superar os problemas que são superáveis, administrar os que forem administráveis e engolir os que devem ser “sorvidos” – “degustá-los”, até, se possível for.

A verdade é que, pior que viver sem esperança é não ter esperança de viver para assistir ao porvir, não ver o futuro acontecer.

Enquanto vida tivermos, devemos lutar para mudar essa realidade, sempre movidos pela esperança e pela fé.

E que venham os dissabores, que venha a borrasca, que venham as injustiças, que estou armado contra elas com a minha tenacidade, com a minha pertinácia, com a minha obsessão e com a minha dignidade.

Ninguém vai conseguir me impedir de continuar sonhando. E vivendo.

Vivendo a vida intensamente, sempre esperando que, um dia, o sol, definitivamente, nasça para todos.

Por José Luiz Oliveira de Almeida, Desembargador (TJMA).

2 comentários:

Vellker disse...

Um texto elogiável pela quantidade de verdades que exprime e também por ter sido escrito por um jurista bem vivido. Desembargador num dos estados mais pobres do Brasil e dominado por uma das piores oligarquias que campeiam soltas no Brasil de hoje, sob o tão alardeado disfarce da "democracia e cidadania", o desembargador sabe do que está falando e escreveria um livro de memórias marcante. Se um dia decidir escrever, será leitura obrigatória para todos os estudantes de Direito, dos que queiram realmente ver a Justiça prevalecendo.

Apesar das palavras de esperança, sabemos que no ciclo de vida das nações, a esperança tem uma vida frágil. Muitas nações hoje são apenas uma lembrança histórica exatamente porque a esperança de mudanças desapareceu antes.

Na verdadeira tormenta de loucura e pirataria política e judiciária por que passa o Brasil de hoje, não serão propriamente a esperança e a fé que ajudarão a mudar tudo isso.

A esperança e a fé justificarão no fim de tudo a certeza de que as mudanças virão, mas por bem jamais. Hoje vemos o destino de uma nação de proporções continentais em tamanho perigo que só a fé e a esperança não mudarão nada.

Darão mesmo apenas a certeza de que para mudanças históricas e para salvação de si mesma, a nação deverá passar pelo que os antigos chamavam de fogo renovador.

Se seus cidadãos forem capazes de aceitar essa verdade, então o Brasil ainda tem um belo futuro pela frente. Um futuro que vai ser construído pela coragem dos seus cidadãos de hoje.

xxxxx disse...

Certamente é o que muitos sentem.

Perfeito!

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O Ministério Público que queremos e estamos edificando, pois, com férrea determinação e invulgar coragem, não é um Ministério Público acomodado à sombra das estruturas dominantes, acovardado, dócil e complacente com os poderosos, e intransigente e implacável somente com os fracos e débeis. Não é um Ministério Público burocrático, distante, insensível, fechado e recolhido em gabinetes refrigerados. Mas é um Ministério Público vibrante, desbravador, destemido, valente, valoroso, sensível aos movimentos, anseios e necessidades da nação brasileira. É um Ministério Público que caminha lado a lado com o cidadão pacato e honesto, misturando a nossa gente, auscultando os seus anseios, na busca incessante de Justiça Social. É um Ministério Público inflamado de uma ira santa, de uma rebeldia cívica, de uma cólera ética, contra todas as formas de opressão e de injustiça, contra a corrupção e a improbidade, contra os desmandos administrativos, contra a exclusão e a indigência. Um implacável protetor dos valores mais caros da sociedade brasileira. (GIACÓIA, Gilberto. Ministério Público Vocacionado. Revista Justitia, MPSP/APMP, n. 197, jul.-dez. 2007)