A vida só tem um sentido, e o único sentido que a vida tem é quando investimos nossa vida na vida dos outros, ou quando encarnamos a luta dos outros como se ela fosse nossa, a luta do coletivo. Esta é a lida do Promotor de Justiça: lutar pela construção contínua da cidadania e da justiça social. O compromisso primordial do Ministério Público é a transformação, com justiça, da realidade social.



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30 de junho de 2010

Formas de dizer


Formas e formas de dizer. Palavras que transformam, reformam, talvez deformem, informem demais, ou menos, conformam, desconformam.

Não é que ela seja chorona — nasceu com o dom das lágrimas.

Não é que ele seja arrogante — tem é excesso de personalidade.

Não é que ele tenha me ofendido — é apenas uma pessoa muito sincera.

Formas de dizer que escondem o que era preciso, hoje, com urgência, sem falta... revelar e redizer, ou ficará o não dito pelo dito. Ou é benevolência mesmo, querer bem ao outro, dar ao outro nova chance, e outra chance, desejar ao outro o melhor. Ao outro referir-me com boas palavras.

Não é que ele seja dorminhoco — simplesmente descansa em horas imprevisíveis.

Não é que ela seja antipática — seu problema é a timidez.

Não é que ele tenha me traído — suas circunstâncias é que o traíram.

Palavras generosas, maneiras de manusear o real para que o real não ataque, não queime, não fira, não açoite, não machuque. Ser assim, ser doce com frases leves, frase moça, frase que apenas roça a superfície dura da realidade amarga.

Não é que ele seja preguiçoso — acontece que ninguém é de ferro.

Não é que ele perca a compostura — é melhor que solte os cachorros a morrer de infarte.

Não é que ela tenha me roubado — eu é que fui descuidado.

Mais que eufemismo, elogiosa perífrase, modo de falar pensado para não pensar, não aprofundar a chaga. Chega de sofrer. Xingar tampouco adianta. Tão pouco... Choramingar é chuva em asfalto, nenhuma semente para crescer e frutificar.

Não é que ele escreva errado — sua ortografia é original e ousada para o nosso tempo.

Não é que ela fale mal de mim — eu é que não ando na linha.

Não é que ele me explore — no fundo só quer o meu crescimento como pessoa.

Palavras que tapam o sol com a peneira, e tapam mesmo, impedem que a pele sofra os raios de fogo.

Palavras que douram a pílula, porque pílula dourada é o que há de melhor, não assusta quem a precisa engolir. Palavras que não choram o leite derramado, era mesmo um leite estragado...

Não é que eu fuja do confronto. Ou tenha medo de encarar os fatos, e tirar a limpo. Não é que eu seja covarde. Não é que eu ponha água na fervura. Ou sim?

Por Gabriel Perissé, doutor em Educação pela USP e escritor.

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Paradigma

O Ministério Público que queremos e estamos edificando, pois, com férrea determinação e invulgar coragem, não é um Ministério Público acomodado à sombra das estruturas dominantes, acovardado, dócil e complacente com os poderosos, e intransigente e implacável somente com os fracos e débeis. Não é um Ministério Público burocrático, distante, insensível, fechado e recolhido em gabinetes refrigerados. Mas é um Ministério Público vibrante, desbravador, destemido, valente, valoroso, sensível aos movimentos, anseios e necessidades da nação brasileira. É um Ministério Público que caminha lado a lado com o cidadão pacato e honesto, misturando a nossa gente, auscultando os seus anseios, na busca incessante de Justiça Social. É um Ministério Público inflamado de uma ira santa, de uma rebeldia cívica, de uma cólera ética, contra todas as formas de opressão e de injustiça, contra a corrupção e a improbidade, contra os desmandos administrativos, contra a exclusão e a indigência. Um implacável protetor dos valores mais caros da sociedade brasileira. (GIACÓIA, Gilberto. Ministério Público Vocacionado. Revista Justitia, MPSP/APMP, n. 197, jul.-dez. 2007)