A vida só tem um sentido, e o único sentido que a vida tem é quando investimos nossa vida na vida dos outros, ou quando encarnamos a luta dos outros como se ela fosse nossa, a luta do coletivo. Esta é a lida do Promotor de Justiça: lutar pela construção contínua da cidadania e da justiça social. O compromisso primordial do Ministério Público é a transformação, com justiça, da realidade social.



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16 de abril de 2009

Todos cantam a sua terra...


Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro valorizaram, cada um a seu modo, a natureza mestiça do povo brasileiro. Sérgio Buarque de Holanda realçou o caráter "cordial" da nossa gente, marcado por uma afetividade exuberante -mas nem sempre sincera- que compromete, muitas vezes, a objetividade nas relações interpessoais, sobretudo quando se trata de distinguir a esfera privada da pública. Outros, como Antonio Candido, se debruçaram sobre o nosso "jeito malandro de ser", tão festejado pela MPB. Eu, porém, pedindo vênia aos pais fundadores das nossas ciências humanas, ousarei divergir.

Para mim, o que caracteriza realmente o povo brasileiro é a sua imensa passividade, à qual se alia um péssimo conceito de si mesmo. Essa baixa autoestima nos faz idolatrar o que provém do estrangeiro -especialmente dos Estados Unidos e da Europa- e desprezar o "similar nacional", ainda quando este é, de fato, o melhor.

Trata-se da conhecida "doença de Joaquim Nabuco" -como a chamava Mário de Andrade-, que é o fascínio irresistível pelas "luzes" do "Primeiro Mundo".

Quanto à passividade, ela não poderia ser mais evidente. O povo assiste, calado, aos escândalos mais chocantes: na "high society", é o gangsterismo que viceja, sem vergonha, por entre orgias gastronômicas, degustações enológicas e colunas sociais; no Legislativo, são as velhas negociatas que maculam, ainda mais, a imagem dos congressistas; no Executivo, seja qual for o nível, é a manipulação politiqueira do Orçamento, é o uso eleitoreiro dos recursos, é o retorno quase nulo, sob a forma de serviços, dos tributos excessivos; no Judiciário, além da lentidão, é a estranha condescendência, cada vez mais comum, com a retórica capciosa de alguns advogados, que desfiguram, pelo uso sofístico, os baluartes constitucionais da cidadania -como o direito ao habeas corpus ou ao devido processo legal-, os quais só valem para os poderosos.

A passividade do povo brasileiro chega a ser tão absurda que não é raro verificarmos a reeleição de figuras corruptas pelos mesmos ingênuos eleitores que, "ainda ontem", por elas haviam sido ludibriados. É o popular "me engana que eu gosto"...

Trata-se, penso eu, de um traço bastante constante da nossa personalidade coletiva, que nos tem acompanhado ao longo da história, ainda que com algumas exceções: umas mais violentas -como Palmares, a Balaiada, a Cabanagem, Canudos, o Contestado, a revolta da Vacina ou a guerrilha dos anos de chumbo; outras mais pacíficas -como o Fora Collor e as Diretas-Já. Além do mais, pouquíssimas dessas revoltas contaram com a adesão significativa da população brasileira, sofrendo, antes, a sua veemente condenação.

(Que nos baste, como exemplo, recordar o que se deu com os raros cidadãos que, de armas na mão, realmente se insurgiram, com "fibra de herói de gente brava", contra o regime militar -ainda que alguns deles, é verdade, almejassem a instalação de uma outra ditadura, só que de índole marxista: iludidos com a perspectiva de um maciço apoio popular, ficaram todos a ver navios, já que a maioria dos brasileiros não deixou de usufruir as migalhas do "milagre econômico", nem muito menos de festejar os "heróis" da Copa de 70, pouco se importando se o "pau comia solto" nos subsolos do poder.)

Se quisermos, portanto, ser sinceros, precisaremos admitir que a revolta aberta e franca nunca foi mesmo o nosso "forte", ou, por outra, se ela o foi alguma vez, vem deixando de sê-lo a cada dia.Em vez dela, preferimos uma cerveja gelada, um bom pagodinho, um sofá e uma TV, a mesa do botequim. Briga mesmo só se for pelo time do coração -assim reza o triste lema desta "pátria de chuteiras", que se afunda mais e mais na indiferença e na apatia.

Todavia, teremos de ser sempre desse jeito? Não nos será jamais possível, nem mesmo num remoto futuro, neutralizar o escravismo e a cultura clientelista que, desde o início, nos macularam o sangue, debilitando-nos o caráter? Não lograremos nunca dar um basta a essa elite bandida, decapitando, se necessário, ainda que metaforicamente, as suas "cabeças coroadas"? Ou decerto não o faremos precisamente porque, lá no fundo, nós de fato idolatramos esses mesmos que nos pisam, só por sabê-los capazes de conquistar o que desejamos e que não ousamos assumir?

E quanto à nossa autoestima? Até quando nos sentiremos "losers", totalmente por baixo, só por falarmos português? Desde o 7 de Setembro, nós somos um país. Falta-nos, ainda, embora poucos o saibam, virarmos uma nação. Longe vá temor servil!

Por CLÁUDIO GUIMARÃES DOS SANTOS, médico, neurocientista, escritor e doutor em linguística pela Universidade de Toulouse-Le Mirail (França).

Fonte: Jornal "A Folha de S. Paulo" de 16/04/09.

2 comentários:

Vellker disse...

Nem sempre é fácil discutir esse tema. O desânimo toma conta de todos. Parecemos mesmo o povo derrotado de uma nação ainda em formação.

E na verdade somos derrotados mesmo. Por enquanto.

Discordo da idéia da passividade do povo brasileiro. Ele é por ora passivo sim, porque não tem agora outra opção, como também eram passivos os prisioneiros dos campos de concentração. O que podiam fazer frente a todo aquele exército de guardas armados?

A comparação parece descabida, mas guardadas as devidas proporções, estamos hoje como povo, prisioneiros de um sistema político e jurídico que nos torna tão prisioneiros quanto aqueles que estiveram num cercado na guerra.

Nominalmente estamos livres e a imprensa chama a isso de cidadania e democracia, mas o que podemos fazer contra esse grupo de bandidos que
tomou conta do poder político, legislando em favor próprio e que em 24 anos foi criando aos poucos esse verdadeiro arsenal de leis com as quais mantém o povo nessa situação?

O povo é passivo? Então jamais teríamos brigas de torcidas por aqui, algumas das quais são verdadeiras batalhas urbanas. Veríamos apenas torcedores sorridentes, de cabeça baixa frente ao que consideram adversário. Protestos em favelas como a mais recente em Paraisópolis na cidade de são Paulo jamais aconteceriam. O povo sofreria as injustiças com docilidade, mas existem áreas em São Paulo e no Rio de Janeiro onde os policiais entram tão armados quanto
soldados americanos na guerra do Iraque.

E o conceito do povo brasileiro sobre si mesmo é péssimo não porque ele acredite que é assim. Ele vê que é assim. Olha para os lados e se vê semi-nu, de chinelos de dedos, com uma bermuda absurda e um boné ensebado na cabeça, geralmente sem camisa. E nem sempre quem se veste assim é pobre ou desvalido, muitas vezes é a atitude que lhe foi inculcada em mais de 20 anos de seriados e novelas que lhe passaram a imagem de que ser relaxado é bonito. Está aí uma rede de televisão, que com a difusão contínua daquele
jeitinho de beira de praia e desmazelo pessoal ajudou a formar essa mentalidade.

E se olhar o melhor exemplo é costume de alguns brasileiros, isso é o mais correto mesmo. A pessoa vai tomar como exemplo o quê? O bêbado em trapos caído na esquina ou o sujeito que se veste corretamente e se porta com compostura? Nada existe de errado nisso. Há que se ver que estamos em formação e figuras como os pais fundadores da Revolução Americana e da
Revolução Francesa exercem um fascínio exatamente porque são representantes de um perfil heróico. Eu diria mesmo que em comparação com a forma de ser, nosso sistema político e nossas mais famosas figuras políticas, como um todo se assemelham ao bêbado caido na esquina. Vamos querer ser como quem então? Ora, como o sujeito que se veste bem e se porta de forma
decente, pouco importa que seja estrangeiro.

De certa forma, após essa lição inicial teremos nosso modo próprio de ser, assim como também esses fundadores de um sistema político um dia se fascinaram com figuras e filósofos da antigüidade e em suas fontes foram beber de sua sabedoria. Primeiro tiveram que fazer uma coisa, alicerçar-se num bom exemplo e é o que teremos que fazer.

Termos o comportamento de um Thomas Jefferson e o arrebatamento inclemente de um Robespierre, se preciso, pois certa parte, aliás grande parte das cabeças coroadas daqui, não poderão ser
removidas da vida nacional apenas de forma metafórica.

Somos uma nação ainda em formação e na gestação das nações, muitas vezes muito tempo se passa antes que seu povo desabroche. E geralmente quando o faz é por resultado de ser tomado por uma idéia, de ser contagiado por um sentimento de uma mudança revolucionária, de ser movido com o fulgor de uma chama que se propaga de forma incontida.

Será assim com o povo brasileiro. Basta acreditar e propagar a idéia.

Haddammann Verão disse...

O Nocivo Formato do Socialismo Divino Se Mostrou - O Casamento da Foice com a Pomba.
Vão Matar Nossa Civilização.
Episódio Estapafúrdio no Rio de Janeiro:
SuperVia jogou a pemba toda em cima dos “seguranças”. Pra o povo aprender a não se dependurar no saco imundo da Teo-Pulhítica que tá aí. Massacram a Educação enfiando “religião” nas escolas (ao invés de PAGAR os professores), FLAGELAM até nossa língua (no esquema insano de submissão civil); aí jogam gente e mais gente despreparada em tudo a sair desesperada na correria do viver; e muitos e muitos vão certinho cair na mão dos “mandantes”. Uma vez DO LADO OPRESSOR fica tudo “marrento” (ufanados em grupelhos e bandos covardes). A SuperVia tirou a cara e ainda sobrou pros “escravos” espancadores e os surrados.
Cenas do horrível:
Passivos como babás de cachorros, e empurrando os dias em feiúras e violências, os enganados se tornam escravos, olhando como bois a ilusão lá do “céu” impregnada em suas cabeças pelos “espertos” vigaristas. Morrem filhos, matam amigos, estoporam infantes, e tudo vai correndo diretinho pros covis dos canalhas (chafurdados na vagabundice), os usurpadores do que produzimos. Vamos, vamos adorar como séquitos desgraçados os símbolos do Terror. Séculos e quase ninguém lava a cara pra ver.
Excremento Teo-Pulhítico:
Agora, meus caros, se alguém ainda tem alguma VERGONHA na cara é só ver que o cúmulo do absurdo insuportável: FORMATARAM o Socialismo Divino. Vestiram o Karl Marx de “jeusuis-deuso”, meteram uma cor vermelha pra miragem abobada da fantochada alienada. Vimos estupefactos nosso dinheiro todo ser levado pros banqueiros pra assegurar esse delírio de poder. E a farra do poder espúrio ser combinada à vista de todos sob risinhos e forte mídia manipuladora. Nos manietaram em senzalas “abençoadas”, “sacralizadas”, “na paz” (aumentada pelos hipócritas acoitados pela violência). E os Feitores cepam no nosso lombo, os chicotes disciplinadores da cruzada da violência aterradora.
Pasmem. Enquanto já devíamos ter terminado o cancro medonho no Brasil com seus palácios apavoradores lotados de pederastas parasitas e vigaristas, a Europa dormente não vê o cêrco da violência civil se formatando: A Espanha num inominável retrocesso cede espaço para um tumor ser fincado no seu solo. Estamos diante dum indescritível processo: Os parasitas teo-pulhíticos vão exterminar mais uma vez a nossa Civilização. Eles “marcam” em cada localidade os que se insinuam como “descontentes” e não feitos para “crer” no regime que impõem, e então assassinam covarde e violentamente; mas têm preferência por infantes, pois querem aniquilar e submeter os que sobrarem e os que estão em redor se avisarem de que DEVEM ser dóceis ao formato de escravos.
Garotos e garotas! Vocês têem noção de quantos foram prejudicados para que vocês estivessem feitos estúpidos entoando cantorias numa euforia insana e num amansamento psicológico covarde? Toda a riqueza que produzimos nunca atende quantos precisam; o escroque comportamento escravizador dos “espertos” investe deslavadamente na ludibriação, no engano emocional e psicológico de todos nós, e fazem isso sem trégua.
A coisa ta tão nociva que agora o adolescente que tentar escapar do formato da senzala do socialismo divino vai ser selado como “rebelde”, e se insistir vai ser entregue pela própria família tutelada como “perturbado’. E já se armou o circo para as universidades serem vigiadas por capangas com crachás de segurança. É o descambo absoluto.
Espécie Humana! Nosso brio civil não pode se acovardar e se enganar mais uma vez. A História já foi contada várias e várias vezes: Não podemos ser exterminados como os outros povos como os Maias, etc, etc … precisamos ver. Precisamos Ver! Não dêem mãos, nem suas consciências, aos Canalhas usurpadores de tudo que produzimos.

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Paradigma

O Ministério Público que queremos e estamos edificando, pois, com férrea determinação e invulgar coragem, não é um Ministério Público acomodado à sombra das estruturas dominantes, acovardado, dócil e complacente com os poderosos, e intransigente e implacável somente com os fracos e débeis. Não é um Ministério Público burocrático, distante, insensível, fechado e recolhido em gabinetes refrigerados. Mas é um Ministério Público vibrante, desbravador, destemido, valente, valoroso, sensível aos movimentos, anseios e necessidades da nação brasileira. É um Ministério Público que caminha lado a lado com o cidadão pacato e honesto, misturando a nossa gente, auscultando os seus anseios, na busca incessante de Justiça Social. É um Ministério Público inflamado de uma ira santa, de uma rebeldia cívica, de uma cólera ética, contra todas as formas de opressão e de injustiça, contra a corrupção e a improbidade, contra os desmandos administrativos, contra a exclusão e a indigência. Um implacável protetor dos valores mais caros da sociedade brasileira. (GIACÓIA, Gilberto. Ministério Público Vocacionado. Revista Justitia, MPSP/APMP, n. 197, jul.-dez. 2007)