A fita consta de um inquérito da PF (pode ser ouvida aqui). Investigou-se um esquema de corrupção que envolve 41 pessoas. Desviavam verbas da Assembléia Legislativa de Alagoas. Aberto em 2001, o dreno permaneceu ativo até o ano passado.
A certa altura, o ex-deputado Gilberto Gonçalves julgou-se prejudicado na partilha. Tocou o telefone para o diretor de recursos humanos da Assembléia, Roberto Menezes. Teve a desventura de ser ouvido pela PF. O diálogo espanta pela crueza.
Em um minuto e nove segundos de conversa, o ex-deputado pronunciou seis vezes a expressão “quero meu dinheiro”. Disse o seguinte:
“Eu sou tudo na vida, agora não sou besta. Eu quero meu dinheiro, diga a [Antonio] Albuquerque [presidente da Assembléia]. Quero meu dinheiro, senão estouro essa Assembléia, que não tenho medo de nenhum filho da peste desse. Quero meu dinheiro. Eu quero meu dinheiro certo, que é dinheiro de roubo, de corrupção. Quero meu dinheiro. [...] E não venha com desconto do INSS não, porque isso é dinheiro roubado. Esse dinheiro é meu. E é melhor você me dar do que a gente sair tudo algemado dessa porra. Diga ao pessoal que eu quero o meu dinheiro.”
O conteúdo dispensa comentários. Passe-se à foto. José Luciano da Silva Júnior foi à garra porque roubou um queijo. Antes, em 2006, furtara uma lata de leite em pó. Mas o delito fora tachado pelo Tribunal de Justiça de Alagoas como “crime de bagatela”. Ou seja, não justificaria nem os custos do processo penal.
Alagoas é mesmo uma terra de contrastes. Gerido pelo tucano Teotônio Vilela Filho (PSDB), o Estado foi à breca. Amigo e principal aliado político de Teotônio, o senador Renan Calheiros salvou o mandato agarrado a uma boiada que, embora submetida aos rigores climáticos do semi-árido alagoano, oferece ao dono uma das mais vistosas rentabilidades do país.
O ex-deputado Gilberto ‘meu dinheiro roubado’ Gonçalves e seus comparsas permanecem impunes. O ladrão de leite em pó e queijo está atrás das grades. Recorra-se, por oportuno, a uma frase do padre Antônio Vieira: ''Não é miserável a República onde há delitos, senão onde falta o castigo deles.''
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