A vida só tem um sentido, e o único sentido que a vida tem é quando investimos nossa vida na vida dos outros, ou quando encarnamos a luta dos outros como se ela fosse nossa, a luta do coletivo. Esta é a lida do Promotor de Justiça: lutar pela construção contínua da cidadania e da justiça social. O compromisso primordial do Ministério Público é a transformação, com justiça, da realidade social.



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11 de setembro de 2007

Parábola social


Maior produtor mundial de melancia, o povo daquele país vivia tragicamente dividido entre aqueles que cortavam aquela fruta no sentido longitudinal e aqueles que a cortavam lateralmente. Era uma guerra feroz, que remontava a cinco séculos, desde que Cornélio 2º, o Desditoso, se apossara do trono e fundara a dinastia da qual o rei atual era o derradeiro rebento.

Nos últimos tempos, cidades foram sitiadas, colheitas dizimadas, todos passavam fome, nem melancia se podia comer. Fosse qual fosse o partido, havia sempre um inimigo que o degolava porque cortara a fruta de forma errada.

Os jornais de cada facção se atacavam com bárbara violência, os adversários eram chamados de sicofantas, e embora ninguém soubesse o que era sicofanta, todos imaginavam que devia ser uma ofensa terrível, daí que os ânimos, que já estavam quentes, ficavam quentíssimos. Injuriados, todos matavam velhos, senhoras, crianças e animais domésticos. Defloravam-se donzelas.

A situação chegou a tal ponto que o rei decidiu intervir, convocando a assembléia geral, que não se reunia desde o reinado de Cosme 6º, o Infortunado. Na assembléia, tiveram assento os principais líderes dos dois lados e, após cinco dias e cinco noites de debates homicidas, chegaram a um consenso: transferiam ao rei o poder de decisão. Com sua sabedoria e sua experiência em dirimir crises morais e institucionais, certamente baixaria um decreto que acabaria com a discórdia na qual o povo se engalfinhava.

Ouvidas as partes, o soberano meditou cinco dias e cinco noites e baixou um decreto que tomou o número 53.697. Tinha um único artigo e um único parágrafo: "A partir desta data, as melancias devem ser cortadas pelo lado certo. Parágrafo único: revogam-se as disposições em contrário".

Por Carlos Heitor Cony, Folha de S. Paulo - 11/09/07.

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Paradigma

O Ministério Público que queremos e estamos edificando, pois, com férrea determinação e invulgar coragem, não é um Ministério Público acomodado à sombra das estruturas dominantes, acovardado, dócil e complacente com os poderosos, e intransigente e implacável somente com os fracos e débeis. Não é um Ministério Público burocrático, distante, insensível, fechado e recolhido em gabinetes refrigerados. Mas é um Ministério Público vibrante, desbravador, destemido, valente, valoroso, sensível aos movimentos, anseios e necessidades da nação brasileira. É um Ministério Público que caminha lado a lado com o cidadão pacato e honesto, misturando a nossa gente, auscultando os seus anseios, na busca incessante de Justiça Social. É um Ministério Público inflamado de uma ira santa, de uma rebeldia cívica, de uma cólera ética, contra todas as formas de opressão e de injustiça, contra a corrupção e a improbidade, contra os desmandos administrativos, contra a exclusão e a indigência. Um implacável protetor dos valores mais caros da sociedade brasileira. (GIACÓIA, Gilberto. Ministério Público Vocacionado. Revista Justitia, MPSP/APMP, n. 197, jul.-dez. 2007)