A vida só tem um sentido, e o único sentido que a vida tem é quando investimos nossa vida na vida dos outros, ou quando encarnamos a luta dos outros como se ela fosse nossa, a luta do coletivo. Esta é a lida do Promotor de Justiça: lutar pela construção contínua da cidadania e da justiça social. O compromisso primordial do Ministério Público é a transformação, com justiça, da realidade social.



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13 de julho de 2007

Castigo e impunidade


Que consideramos a impunidade um grande mal é fato; que creditamos a ela uma boa parte dos problemas de violência, também. Pensando nisso, como os pais ensinam aos filhos que seus atos produzem conseqüências?

Uma educadora me contou um fato interessante: um aluno cometeu uma transgressão e recebeu uma penalidade. No dia seguinte, o pai foi solicitar uma conversa com a orientadora.

Quando isso ocorre, os educadores sabem o que esperar porque muitos pais não aceitam que o filho arque com as conseqüências de seus atos no espaço escolar ou não concordam com a sanção, que costumam achar severa demais.

Pois, para o espanto dessa educadora, o que o pai queria era manifestar apoio à atitude da escola para que o filho tivesse a oportunidade de aprender que os atos têm conseqüências. Vale dizer que o pai estava bastante sensibilizado com o tema por causa das notícias sobre comportamentos violentos praticados por jovens. Este é, portanto, um bom momento para refletir sobre o castigo.

De largada, vamos pensar a respeito do castigo corporal, amplamente usado por pais de todas as classes sociais. Ele costuma parecer eficaz porque produz efeitos imediatos, ou seja, o filho deixa de fazer o que não deve ou faz o que deve rapidamente. Mas tal efeito é efêmero, como os próprios pais podem constatar. Além disso, o castigo físico tem mais a ver com o humor dos pais ou com seu descontrole do que com o comportamento do filho. De qualquer forma, um castigo corporal é uma violência física contra os mais novos e, portanto, não pode ser educativo.

As punições exageradas e as que são aplicadas e não honradas pelos pais também ocorrem com muita freqüência. Um garoto que não fez a lição de casa antes de a mãe voltar do trabalho não pode assistir a seu programa de TV favorito por três dias. Muita coisa, não? Uma adolescente que não cumpriu o horário de retorno de uma festa foi proibida de ir à próxima, mas tanto reclamou e fez cara feia que ganhou dos pais a permissão.

Afinal, o castigo deve ser usado na educação e funciona? A resposta é sim para as duas perguntas. O castigo consistente pode ser uma boa estratégia para fazer frente às transgressões cometidas pelos filhos e para responsabilizá-los pelo que fazem. Para isso, é preciso que os pais, antes de aplicar uma punição, tenham uma atitude educativa firme e coerente.

Castigo em criança pequena não faz muito sentido. A contenção -que já é uma sanção- usada para que o filho deixe de fazer algo que não deve e a tutela constante para que faça o que deve já são atitudes suficientes. Colocar a criança pequena para "pensar" não se sustenta, já que ela nem sequer tem autonomia para tanto. Os pais de filhos nessa idade devem ter muita paciência e disponibilidade: não podem ficar bravos sempre que eles não se comportam de acordo com as normas nem podem achar graça nisso.

Para os maiores de seis anos, o castigo é educativo desde que precedido de regras claras e justificadas. A repetição das orientações, independentemente de elas serem ou não seguidas, não revela autoridade.

E é bom lembrar que o castigo aponta sempre o que não deve ser feito. Por isso, é insuficiente como estratégia educativa, já que queremos que os mais novos aprendam o que deve ser feito, o que é bom, o que é certo.

Tanto as atitudes educativas quanto a aplicação de castigos exigem que os pais usem bem a autoridade e as palavras dirigidas aos filhos, conversem praticando o olho-no-olho, escutem os filhos de maneira interessada e sejam coerentes.

Por, ROSELY SAYÃO, psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha), Jornal Folha de S. Paulo, 12/07/07.

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