1 de outubro de 2010

Estelionato, uma palavra que muda de cor


Todo estelionatário deve o nome de sua especialidade criminosa ao estelião, um lagarto capaz de mudar de cor para burlar seus inimigos – em analogia clara com o crime de fraude, logro, engodo, também chamado popularmente de 1-7-1 por causa do artigo que lhe coube no Código Penal: “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”. Pena: de um a cinco anos de reclusão e multa.

O réptil cujo nome latino era stellio (derivado, por sua vez, de stella, estrela, por conta do formato das pintas que lhe cobrem o corpo) foi associado bem cedo à falsidade humana. No segundo século da era cristã, o escritor Lúcio Apuleio – autor daquele que alguns consideram o primeiro romance da história, “O asno de ouro” – usava a palavra com o sentido figurado de “velhaco, trapaceiro, enganador”, segundo o dicionário latino-português de Saraiva. Mas o vocábulo “estelionato” só desembarcaria em nossa língua no século 17.

Como o sentido figurado é uma força que não pode ser detida, a palavra que saiu do reino animal para virar caso de polícia continua sua marcha rumo a novos horizontes. Hoje é relativamente comum vê-la nomeando certos tipos de enganação que não se enquadram (infelizmente?) no Código Penal, como “estelionato eleitoral”, aquele praticado por candidatos que burlam o eleitor, prometendo o que não pretendem cumprir.

Um comentário:

  1. Na prática política dos dias de hoje, o estelionato eleitoral e junto com ele o estelionato puro e simples no cargo, é peça mestra para o funcionamento da máquina política, assim como a corda é a peça mestra para o funcionamento de um relógio.

    Sem suas peças mestras, as máquinas não funcionam.

    Arraigou-se de tal forma na nossa tradição política o estelionato eleitoral, que se ele fosse banido da prática política dos dias de hoje, a política e os políticos como os entendemos e os vemos, deixariam de existir.

    E seria uma boa coisa, vermos o nascimento de uma nova política, de um novo tipo de político e de uma nova estrutura política.

    Vez por outra isso ocorre em algumas nações. Mas nunca é um processo pacífico. Aqui não vai ser diferente.

    Vellker
    http://cartasdepolitica.blogspot.com

    ResponderExcluir